sexta-feira, 10 de agosto de 2007

BARCOS RABELOS




São os rabelos contruídos pelos próprios marinheiros, em qualquer local das margens, no surgidoiro ou portelo que lhes fica mais à mão e que seja do fornecedor da madeira. De mãos tão rudes, com técnica tão primitiva, utilizando produtos da terra, materiais bem humildes (o pinho, o castanho e o linho), são um conjunto sóbrio, imponente de aspecto, altivo de porte, verdadeira embaixada de uma grande época já distante.

Construído o rabelo - o que não leva muito tempo, pois um barco que possa carregar cinquente pipas em dois meses está no rio -, é lançado à água, e dela só retirado, um dia, se é necessário reparar qualquer rombo ou meter-lhe alguma estopa.

Desde logo começa a sua vida de esforço permanente e risco certo, pois que nem seguros são, e as viagens, que só excepcionalmente passam o Pocinho e vão até Barca de Alva, que rarìssimamente ultrapassam, sucedem-se bem trabalhosas. A descida do rio tem a dificultá-la a carga do barco; a subida, o vencer a corrente.

Pelo seu recorte impecável e bárbaro, pela altaneira supremacia que tem sobre as águas do rio do oiro, que, deixando de o trazer, o espalhou a mãos-cheias pelas vertentes milagrosas e ásperas das margens, é verdadeiramente um barco senhoril, digno de reis, que já em épocas desfeitas possívelmente serviu.

E de um rei ainda hoje é, na verdade. Um barco que traz à sua guarda, cautelosamente acomodado em si, o vinho do Douro, o rei dos vinhos generosos, é, indubitàvelmente, um bergantim real!

Armando de Matos - O Barco Rabelo.

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