sexta-feira, 10 de agosto de 2007

SOL ENGARRAFADO


O vinho é de moscatel, alvaralhão, penaguiota, malvasia fina ,e tiram-no os homens das fragas ,mais ou menos como Moisés fazia gemer água –a bater-lhes.
Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que debaixo o seca, erguem-se os muros de um milagre. Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas. No Setembro, os homens deixam as eiras da Terra-Fria e vêm por aí abaixo. Em rogas, descem a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem. E quando chegam ao alto levam o sol engarrafado.


MIGUEL TORGA - Portugal

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