quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Com que roupa rapaz

É sempre com enorme satisfação que vemos alguém de Felgueiras, vir à ribalta e mostrar ao País que duma pequena aldeia encravada no Montemuro também há gente empreendedora. Fico duplamente feliz por se tratar dum conterrâneo mas muito mais por o Fernando ser um amigo de longa data que a esta qualidade associa uma para mim ainda maior que é, a alegria contagiante que transmite a quem com ele convive.
Mais satisfeito fico por o feito aqui reportado se tratar da construção de uma embarcação, pois os barcos são uma das minhas grandes paixões .
Como diria o saudoso “tio Américo, com que roupa rapaz”. É que " Está mesmo no giló
Simplesmente espectacular.
Vejam tudo emhttp://picasaweb.google.co.uk/rafael.alex.pina/YolleDoMestreFernando?authkey=q8wYbdKUSVs
Mestre Fernando e o sonho de uma escola de «yolle»
«O país precisa de quem saiba estas artes»
O que mestre Fernando faz mais ninguém neste país de marinheiros sabe fazer: só ele conhece os segredos da construção artesanal do “yolle”, embarcação tradicional feita em madeira, historicamente ligada às origens do remo, e que ainda hoje desempenha um papel essencial nesta modalidade….

Fugir da terra para o mar suprema ironia, mestre Fernando nunca remou na sua vida. É assim mesmo que gosta de estar: pés em terra e olhos no mar. O seu trabalho com barcos começou longe de Portugal, num estaleiro naval da ilha de Luanda. “Mas já em garoto, na minha terra (Felgueiras, concelho de Resende) tinha muito jeito para as madeiras. Sempre que podia, pegava num cutelo afiado e fazia uma peça qualquer, piões por exemplo, mas tinha de ser às escondidas do meu pai”, conta o artesão. Até que um dia o seu dom deixou de ser segredo. “Quando andava na 3ª classe, houve um concurso em que cada escola do concelho escolhia o aluno que tivesse feito o melhor trabalho em madeira para o ir apresentar juntamente com os outros finalistas. Eu fiz um arado, fui seleccionado, e viria a ser considerado o autor da melhor peça de entre todas as escolas”, recorda o artesão, cujos olhos ainda brilham de emoção de cada vez que lembra esses tempos. “A nossa professora até chorou de alegria”, enfatiza. Infelizmente, pouco depois, também ele choraria, mas de tristeza e frustração. É que o progenitor sempre torcera o nariz ao talento que ameaçava roubar-lhe o filho ao destino traçado desde que nasceu: tomar conta dos rebanhos nos montes e, depois, trabalhar a terra. Por isso, resolveu por um ponto final nas ilusões. “Nem acabei a 4ª classe, foi uma dor de alma para mim”, desabafa mestre Fernando, com uma expressão de mágoa a toldar-lhe o semblante. “Muito mais tarde, o meu pai admitiu que fez mal, mas eu também compreendo que naquela altura a prioridade era pôr comida na mesa e isso não era nada fácil”.O jovem Fernando ainda aguentou até aos 18 anos. Então, limitou-se a informar o progenitor de que ia aprender outro ofício. O primeiro emprego foi na construção civil, mas aos 26 anos rumou a Angola, ficando a viver e a trabalhar num estaleiro da ilha de Luanda, onde se fez homem, como diz. Não conhecia aquela actividade, mas pressentia que o seu futuro estava ali, onde podia aliar o seu jeito para as madeiras com dotes de engenharia que até então nunca pudera revelar. “Se tivesse continuado a estudar, talvez hoje fosse tão famoso como o foi Edgar Cardoso, o engenheiro das pontes que era lá da minha zona”, comenta, a propósito. O importante, porém, é que, finalmente, sentia prazer no que fazia. “Desenhávamos e construíamos qualquer tipo de barco”, entusiasma-se mestre Fernando. Em Angola haveria de construir três dos quatro barcos, que não a remos, feitos ao longo da sua vida. O último foi já em Portugal, há cerca de 25 anos, destinado ao brigadeiro que dirigia a antiga Escola de Remo e Canoagem. “Ele ficou todo contente, disse que era o sonho da vida dele”. Se a antiguidade e a dedicação valessem divisas na carreira de Fernando Matos, certamente seria mais fácil ao mestre concretizar, também, o seu próprio sonho de ter uma escola onde possa perpetuar a arte dos “yolles”. Este país de marinheiros – e de cada vez mais atletas remadores de sucesso internacional – deve agradecer-lhe… e com muito mais do que medalhas. JF
www.inatel.pt/tempolivre/177/oficios.html

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